A rouquidão do clichê


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Considerando ou não estudos e teorias hegelianas, cartesianas e afins, é quase como um senso comum o assumir dois lados – maniqueístas – de uma situação, sociedade ou relação social. Os fracos e oprimidos diante dos inescrupulosos, usurpadores e maléficos não se prendem as fábulas, charges e histórias em quadrinho; são elementos incorporados, quase arquetipicamente, no inconsciente da sociedade ocidental.

Assim como a grande mídia ou as instituições tradicionais do capitalismo utilizam deste célebre artificio para defender seus interesses e até lucrar, o outro lado também acaba se valendo disso de uma forma bem interessante. Quando se estuda ou se observa assuntos delicados, polêmicos ou que envolvam relações desiguais – entre capitalistas e minorias, por exemplo – esta quiralidade entre os lados do maniqueísmo acaba se definindo. Muitas lutas, guerras ou julgamentos precoces se deram, e se dão, sob este prisma, mas é simples esquecer que o comportamento descarado é praticado em ambas as faces, o convexo e o côncavo da situação, ou bem e mal.

Se formos para um aspecto filosófico da coisa, em sentido mais moderno, nos esbarramos com o niilismo da terminologia bem e mal. Dentro deste encontro a noção da construção social dos termos se funde não só com a construção etimológica das palavras; mas também com a construção social baseada nos julgamentos e avaliações dos poderes. Neste ponto não se pode limitar a consideração do poder detido pelo clássico da propriedade, capital e meios de produção; mas é importante ir além, lembrar também do poder de convencimento, a retórica ou hipnose por diálogo.

É a partir desse poder que a quiralidade se faz, historicamente, entre a esquerda e a direita política. Discursos muitas vezes concisos, bem estruturados, repetidos há anos que remetem não só a valores, interesses e princípios morais, extrapolam para as necessidades, desejos e ensejos dos ouvintes, telespectadores ou leitores. São estas as efetivas formas de convencimento e diagramação do discurso chamado de conservador/revolucionário, dependendo de onde se vê.

Um exemplo disso é o envolvimento da esquerda com os movimentos sociais, em específico, no Brasil. Vemos manifestações, passeatas, cartas e eventos de apoio, falas, correntes e por aí vai. Ajudas esporádicas (de uma meia dúzia) e um uso fabuloso deste espaço para o conveniente e ‘esclarecedor’ discurso. Eis a variável mais fixa da comunicação capitalista: o discurso.

Tais ferramentas são sempre impactantes, emocionantes e imperativas: fatos distorcidos e verdades controversas, sempre embutidas de uma ausência, quase calada, do diálogo. São monólogos formadores, informativos e orientadores de rebanhos e rebanhos de pessoas, ou de um grupo que se orienta enquanto minoria em comportamentos bem padronizados de pregação da liberdade ou do que for sua essência ou razão de existir.

Frutos desta hipnose são as pessoas, espectadores, membros desses rebanhos; vítimas de seus valores descrevidos de forma tão habilidosa por um outrem. Os dois lados ocultados pelas fantasias das epopeias sociais. O sensacionalismo da esquerda se mistura com a censura e se parece cada vez mais com a ‘podridão’ criticada da direita. Será que vale a pena justificar assim, os meios pelos fins?

As causas sociais são muitas, mas não há ‘pobres coitados’ eternos nem unanimidade inteligente, da mesma forma como não há imparcialidade na informação. As desigualdades nos batem na face como as mentiras dos discursos dos dois lados. Cabe ao receptor da informação filtrar; já que, a censura real é distante do concreto, não do imaginativo destes célebres autores de discursos e textos; os denuncistas e propriamente sensacionalistas como aqueles telejornais que escorrem sangue da televisão.

Muito da credibilidade da causa real se perde neste imaginativo de guerra eterna entre bem e mal, e o diálogo entre as partes acaba se tornando impossível. Associado a isto estão os que realmente tentam mudar algo. No uso das ferramentas possíveis e quase impossíveis, lidam e aprendem como o jogo funciona e se tornam guerreiros quase solitários, dependendo do título que carregam. Para esses sobra a satisfação de tentar; e para os oradores, tão defensores de fracos e oprimidos, a ‘glória’ e a rouquidão. É clichê, previsível e hipócrita, mas há quem se contente com isso para justificar um assassinato, da única indefensável, a pobre coitada da verdade.

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Stella D´Agostini